quinta-feira, 29 de outubro de 2009

dos filmes que mostram criminosos mas não explicam o crime

Há filmes, recentes, que apresentam um crime, mostram o criminoso, mas não revelam a razão. No máximo, apresentam indícios das motivações. Só que, olhando bem, percebe-se que elas estão diluídas em todos os outros personagens.

Em tempos de incerteza, melhor assim. Um filme que sugere conexões, sem afirmá-las, sem explicar. Um filme que se permite a dúvida, que faz perguntas e não dá respostas. Um filme ousado, não dogmático.

Os filmes dogmáticos são como missa. Saímos satisfeitos, restabelecidos em nossas crenças. Verdades supremas, de esquerda ou direita, a depender da ideologia. Prefiro os filmes que incomodam e geram dúvidas. Esses são melhores. Numa comparação grosseira, tome Tiros em Columbine, do Michael Moore, e o Elefante, de Gus van Sant. Com qual você fica?

Vejo semelhanças em o Elefante e em O Primata. O primeiro é muito muito melhor que o segundo, sem dúvida. Pero, ambos bebem algo do Dogma 95, que não é apenas a forma. Têm o incômodo e a ousadia militante.

Pode ser besteira minha associar Gus Van Sant aos dinamarqueses. Ou ao Lars, para ser mais específico. Que seja. Para mim, ambos fazem o melhor cinema da atualidade.

(Fora os Dardenne. Mas aí é outro capítulo.)

8 comentários:

jorge elias jr. disse...

Caro amigo Luis,

Concordo em termos (ou seja, quer dizer que discordo em parte, também). Mas, não me leve a mal, seria proveitoso que, durante o período da mostra, concentrasse seus esforços em comentários sobre sua programação. Não sei se entendi bem o propósito do blog, mas tenho realmente feito uso das postagens para fazer minha programação. Por isso tenho também me esforçado para falar, por mínimo e mal escrito que seja, qualquer coisa sobre cada uma das minhas opções. Acho fantástico que tenhamos esses debates - que há pouco travamos via e-mail, no caso de Anticristo. Apenas gostaria que nessa quinzena deixássemos os debates a reboque do detalhamento de programação efetuada ou a fazer. Talvez esse blog possa ganhar permanência e seria interessantíssimo que fosse assim, aproximando-nos e talvez até marcando sessões coletivas para filmes então em circuito, com debate ao vivo e elaboradas discussões filosóficas (das quais obviamente não tenho preparo para participar). Para não encerrar sem uma provocação mais ampla, não posso deixar de dizer que assina embaixa do trecho "Fora os Dardenne", mas em outro contexto. Os Dardenne são um saco - quase brilhantes, mas para mim muito mais quase. Nenhum filme me emociona, não me faz sentir porra nenhuma. E que você foi muito feliz ao definir como besteira comparar Gus Van Sant com Lars.

luís disse...

os usos e abusos do blog.

Ramiro disse...

Vou discordar, também em parte, da discordância relativa. A observação de que este espaço deve ser, na atual conjuntura, usado precipuamente para apresentação de listas de filmes pretendidos e de comentários sobre as coisas já vistas não impede que o caboclo decida se dedicar - complementarmente - a discussões mais cabeça, sempre que agraciado com tempo disponível e fuminho estimulante.

Ramiro disse...

Ah, esqueci que tenho de discordar, drástica, vigorosa e peremtoriamente, da opinião que o Júnior emite sobre os Dardenne. Dizer que eles são um saco é uma loucura imperdoável.
Aliás, não acho que o Luís perde a razão ao incluir o nome deles no alto do pódio do cinema atual.
Quanto ao post em si, achei tudo muito pertinente.

celi disse...

Também achei (pertinente e bonito). Quanto aos Dardenne, sugiro que o Jorge veja O Silêncio de Lorna - se é que não viu. E, depois, faça a conta pra trás.

jorge elias jr. disse...

Tá bom, vocês venceram, batatas fritas. O texto é ótimo e os Dardenne são excepcionais (essas são afirmações verdadeiras). Mas posso me encastelar, solitária e confortavelmente, entre os que não acham que os caras fazem o melhor cinema da atualidade? É simplesmente uma questão de gosto, de não envolvimento com os filmes deles.

patricia orestes disse...

Gostei do texto do Lu e acho muito bom que nem todos se deixem consumir pela ansiedade e ainda consigam parar um pouquinho para compartilhar reflexões, embora também ache bastante útil as indicações ou contra indicações dos filmes já vistos.

Ramiro disse...

Quanto ao pedido de permissão, apresentado pelo Jorge, para se "encastelar, solitária e confortavelmente, entre os que não acham que os caras [os irmãos Dardenne] fazem o melhor cinema da atualidade", indefiro. Passa mais tarde.